• “A alma não se rende ao desespero sem haver esgotado todas as ilusões”
  • # Quinto -

    domingo

    E quando tudo parecer perdido...
    Quando o tempo tiver ido embora,
    E o que restou estiver acabado,
    Posso dizer que a criança que havia,
    Hoje repousa dormindo e não vai acordar.
    E enquanto ela dorme
    A outra metade de mim acorda... e,
    Enquanto a criança morre,
    Em cada pesadelo de seu sono.
    A outra metade de mim vive,
    Se fortalecendo nas lutas de um sonho.
    Afinal quem eu sou ?
    Quem eu quero ser?
    Afinal quem eu fui?
    Em quem irei me tornar?
    Nem caminhando nem seguindo
    Apenas sinto o tempo passar
    O que aparecer eu faço acontecer
    Nem lutando nem batalhando
    Apenas fico sentada esperando...
    Pra onde o destino me levar eu vou.
    Em que ponto se perdeu a motivação
    Que se foi com a coragem?
    Aonde elas se esconderam?
    Eu preciso encontrá-las.
    A vontade fugiu, onde é o seu refúgio?
    Eu preciso tê-la de volta
    O que aconteceu comigo?
    porque eu mudei tanto?
    Não sinto amor, dor ou calor...
    Nem felicidade ou o peso da idade...
    Eu quero acordar a criança...
    Mas a criança não quer acordar...

    # Quarto -


    E foi preciso que eu me perdesse,
    Para que eu pudesse ver que o caminho que eu seguia
    Era o dos perdidos.

    E foi preciso que eu sofresse,
    Para compreender muitas coisas...
    Que apenas observando a dor dos outros
    eu jamais entenderia.
    Pois existem coisas que apenas a experiência
    Pode nos proporcionar.

    E foi preciso que eu segurasse minhas lágrimas,
    e abrisse um sorriso forçado,
    para demonstrar coragem.

    E foi preciso que eu chorasse,
    inundações sem fim...
    para conseguir superar, ou pelo menos me acalmar
    e ver que meu problema
    não tinha solução, e mesmo assim
    eu simplesmente tentei e não desisti.

    E foi preciso que eu chegasse a meu limite,
    para engolir o orgulho,
    e admitir, se preciso, a derrota.

    E foi preciso admitir a derrota,
    para que eu pudesse começar do zero...
    e apagar tudo, para voltar pra batalha,
    e tentar ou prometer,
    fazer melhor, o que eu sei
    que faço.

    E foi preciso eu me sentir um lixo,
    para que eu me acostamasse com a realidade
    e finalmente entendesse as coisas como são.

    E foi preciso que eu construísse...
    mas veio o vento que levou TUDO...
    e veio a chuva e afundou TUDO,
    e veio um terremoto,
    o chão se abriu
    e eu caí em um abismo sem fundo.

    E foi preciso que eu caísse,
    para que eu pudesse ver,
    que eu consigo me superar e levantar sozinha.

    E foi preciso eu dar a minha cara a bater,
    para que eu conseguisse
    sustentar os meus ideais.

    E foi preciso que a chuva me molhasse novamente,
    e tudo que é meu.
    Para que eu irritada, gritasse bem alto:
    - Se a chuva quer cair que caia e se for sobre mim que seja!
    Porque nada pode destruir o meu mundo,
    nem nada que nele eu idealizar e batalhar.
    Porque a beleza das coisas, está na sua busca...

    E foi preciso que eu buscasse...
    para então saber o que é
    viver.                                      

    # Terceiro -

    A menininha saiu de casa com sua boneca na mão. Aparentava ter uns nove anos. Foi em direção á casa de sua amiga. Do outro lado da rua. Onde na porta havia outra menininha, segurando uma boneca. Ambas cúmplices de uma brincadeira ainda não inventada.A menininha que chegava mantinha um semi sorriso envergonhado no rosto. A menina que esperava estava séria, quase em perplexidade. Entraram, e se dirigiram para o quintal. Sentaram no chão e ficaram se olhando... Mãe da cozinha com olhar apreensivo. Ohar repentino, brilhando com a lembrança de que tinha guardada em seu peito de sua infância. De repente de onde estavam as menininhas se ouviam risos.Risos de criança feliz. O olhar da mãe... Morto, apagado. As duas menininhas vão em direção a cozinha, deixam as bonecas em cima da mesa e se dirigindo para a sala a filha decreta:
    - Não adianta mãe, é muito complicado brincar disso...
    A mãe olhou para as bonecas com o coração apertado. Soluço engasgado. Segurou as duas pequenas em seu peito enquanto olhava pra sala. Fitava as duas menininhas sentadas em frente ao computador, ambas com muito interesse.
    - De imaginar que no mundo já houve dias simples o suficiente a me fazer acreditar, que cuidar da minha filhinha - olha para a boneca com nostalgia - era a coisa mais fácil do mundo... Mas a gente envelhece as filhinhas tornam-se reais. - olha pra filha -.
    E toda inocênmcia de uma infância perde-se nas lembranças de uma mãe,...

    # Segundo -


    É tudo tão estranho e confuso. 
    Atordoada. 
    Aonde estou? Como vim parar aqui? O abismo é sem fundo. Mas eu parei. O que parou,como e porque?
    A única coisa que escuto agora é o barulho. Barulho dos meus pensamentos.

    Sussurrando. 
    Como se cada palavra estampada na minha cabeça, fosse um último suspiro. Perdido. Arrependido. Clamando por perdão com tanta dor que não se houve bem.
    Vazio. 
    Determinando tudo baixinho. 
    Ninguém vai descobrir. 
    E esse formigamento, agora? Eu quero voar. Aonde estão minhas asas? Eu não tenho asas. Em que ponto as cortaram? 
    No início! No início tudo é festa, depois alguém tem que arrumar a bagunça.
    Cansar.
    Dormir.
    E nunca mais acordar. Eu não quero dormir. Eu estou bem, acordada. Muito obrigada... 
    De repente volto a cair.
    O vento. 
    A brisa.
    Ou efeito do ar em meu corpo.
    Queda livre. 
    Vacuo. 
    Ilusão. 
    Estou na verdade mais confusa do que antes... Perder-se é uma das escolhas. É fácil seguir o caminho. Mas é difícil encontrá-lo. Escolha.

    # Primeiro -


    Coração de pedra. Sentimento de água.
    Metáfora perfeita pra me expressar.
    O amor chegou, o amor mecheu comigo. 
    Mas o amor foi embora. E me deixou nesse vazio.
    Agora eu estou incompleta. 
    Feito pedra de estrada.
    Que chora sozinha as dores, da marca d'água.

    Mas sabe qual o melhor? E quase ninguém vê?
    Acho que a pobre pedra, gosta do que tem.
    Amor sem dor, não é amor.
    A minha cabeça reage de dois lados distintos, e,
    para um existir o outro tem que estar ali residindo.

    O amor se foi, e a dor ficou.
    Mas se eu sinto dor. É porque ainda há amor.
    E o amor não morreu. Nem deixou de existir. Apenas mudou de corpo.
    De alma, de rosto...
    Quem será a próxima vítima... Quem será o acusado...
    De deixar estas profundas marcas
    na minha dura pedra...