• “A alma não se rende ao desespero sem haver esgotado todas as ilusões”
  • Meu TCC fake do colégio.

    quinta-feira

    O ano começou como uma promessa de que o conteúdo ministrado seria de vital importância para a passagem do PSV (processo seletivo de vestibular) Todos chegaram muito entusiasmados. Determinados a estudar, e enfrentar todas as dificuldades que viessem ao longo do ano. As primeiras provas nos mostraram que não estamos preparados para enfrentar grandes obstáculos e que muito trabalho estaria por vir.
    Todos os professores se empenharam bastante para que a meta fosse atingida. Alguns em vão. Outros cumprindo não somente o papel de educador didático, mas social, cultural e psicológico. Professora Débora, tentou deixar todos muito calmos e tranqüilos quanto ao vestibular, mas não foi possível, pois todos ao longo do primeiro trimestre ficavam cada vez mais desesperados e indecisos e tristes ou arrependidos. Enquanto isso, eu seguia apenas observando as pessoas da sala, pois, no entanto eu tivesse enfrentando muitos problemas familiares e emocionais eu não estava tão confiante quanto ao vestibular. Sempre foi um grande peso eu ter que passar no vestibular logo com o término do pré. Alguns acreditam. Mas do que adianta alguém acreditar se eu mesma não acredito? Minha confiança não é falha, nem fraca, apenas sou bastante realista. E eu não estou preparada. Gostaria de dizer, tranqüila, que mesmo que eu não passe eu teria o apoio da minha família para prosseguir mais um ano e realizar meus sonhos. Mas a vida é dura. E eu só posso não desistir e tentar não fazer um grande estrago da minha vida.
    Para algumas pessoas, o vestibular vai ser uma experiência, para mim pelo visto será uma decisão. Temo que não tenha feito muita coisa para atingir os objetivos. Arrependo-me de algumas coisas, mas não posso dizer que não tive um bom acompanhamento escolar. Todos os professores na medida do possível ministraram excelentemente os conteúdos, alguns a turma passou por pequenos problemas nada que atrapalhasse o andamento das aulas.
    Alguns desentendimentos ocorreram também no início do ano com algumas pessoas reclamando da falta de união da turma, professora Débora mesmo com os conflitos existentes conseguiu nos aproximar, algo que nós mesmos avaliávamos como impossível.
    Eu sempre fui uma pessoa solitária, e os poucos amigos que tinha eu cativava o suficiente sempre fazendo todo o possível para o seu bem estar. Esse ano, pelo contrário do ‘ao longo’ de minha vida, eu fiz muitos amigos. Amigos aos quais guardarei na lembrança, talvez até quem saiba pelo resto de minha vida. Amigos aos quais eu nunca tinha tido pelo menos parecido, amigos que me escutavam, que se interessavam pelo que eu tinha a dizer, e que eram muito divertidos. Creio que atrapalhei diversas aulas, que meus poucos amigos antigos me abandonaram por certo tempo. Mas hoje, posso dizer que tudo está nos conformes.
    Foi um ano difícil, para mim. Pois nas férias recebi muita pressão de minha família. Eu então comecei realmente a estudar de verdade, ao ponto que alguém estuda mesmo quando está querendo passar no curso de direito. Porém eu dei uma relaxada, porque em nossas vidas ás vezes temos crises existenciais, e eu as tive. Foi um período ao qual eu valorizava o ‘Carpe Diem’. Ao qual eu preferi VIVER a LUTAR. Talvez tenha sido um erro, não sei ao certo, só sei que não me arrependo de nada. Pois como diz Elis Regina na música de Belchior ‘Quero lhe contar como eu vivi e tudo que aconteceu comigo viver é melhor que sonhar, eu sei que o amor é uma coisa boa’ a gente nunca se arrepende do que faz, quando o que é feito é aproveitado.
     Descobri muitas coisas que me evoluíram espiritualmente. Como saber curtir o prazer dos sentimentos e emoções, então finalmente eu comecei a desvendar o prazer dos sentimentos que eu sentia em relação ao fim da vida escolar, vestibular e início de vida universitária ou de um trabalho. Comecei a utilizar isso ao meu favor. A ansiedade nos faz estudar mais do que precisamos porque ficamos tão ansiosos tão aperreados que aproveitamos bastante o tempo. O medo nos faz criar coragem, e aparecer determinação de nossos fígados. Alguns falham ao longo do Caminho, outros lutam mesmo não conseguindo mas lutam... Não desistem, e atingem as metas com certo prazo.
              
     ‘Mas apesar de termos feito tudo... Tudo o que fizemos’
                                                                                 (Elis Regina)

    Eu fico tentando vencer, melhorar e os erros que sustentam os acertos eu tento retirar, mesmo que tudo despenque. Pois às vezes precisamos que tudo caia para que possamos construir tudo do jeito que deve ser construído para que no futuro quando tiver mais acertos do que erros, um erro do passado não faça despencar toda uma vida.
    Está tarde demais? Para mim que quero de verdade conseguir e me encontrar nem que eu estivesse bem mais velha ainda não seria tarde.
    “Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito e que a solidão é pretensão de quem fica” 
                                                                                                                                   (Cazuza)
    Com as primeiras aulas de Adailton, logo percebi que suas aulas seriam de exímia importância no âmbito da compreensão da vida. Ele sempre expôs porque escolheu a área de humanas, e eu nunca vou me esquecer do dia que ele contou quando ele percebeu que era de humanas...

    “Eu devia fazer a terceira série, quando a professora ensinava frações, OPERAÇÕES COM FRAÇÕES. Eu me lembro que era um fim de tarde, e as janelas da sala estavam abertas, e que a professora resolvia uma questão de fração sobre laranjas. Eu estava tão focado olhando pela janela, o dia lindo que estava lá fora, que nem percebi quando a professora me perguntou sobre o problema... Foi quando eu retornei pra aula e pedi que ela repetisse... Ela perguntou a mim que, se uma mãe tem uma laranja e quer dividir pra seus três filhos, com qual fração de laranja cada filho ia ficar... Naquela hora enquanto apareciam uns três com a mão levantada pra responder, eu simplesmente olhei de novo para janela e fiquei pensando em quanto àquela mulher era pobre, e o quando passavam necessidades para ter que dividir uma única laranja entre seus três filhos... E foi naquele momento que eu percebi que era da área de humanas, e não exatas ou biológicas, porque enquanto havia pessoas apenas querendo resolver teoricamente o problema, eu queria entender e resolver socialmente na prática...”
    Se eu pudesse, eu diria pra Adailton, que eu descobri que era da área de humanas quando em uma noite que eu não me lembro qual, mas que fez parte da minha pré adolescência, eu estava prestes a dormir, mas eu estava tão revoltada com o presente do mundo, com a fome, com a desigualdade... Eu me lembro apenas que eu havia acabado de estudar sobre socialismo, Karl Max, os ideais utópicos, e eu tinha botado na minha cabeça que eu ia fazer o socialismo utópico valer à pena, daí eu comecei a estudar e a ver os problemas de o socialismo não der dado certo e finalmente eu compreendi que o que é utópico jamais passaria de um sonho, mas que eu não ia esperar as coisas sentadas eu tinha que ser uma revolucionária... E foi então que eu perguntei pra professores, o que eu podia fazer, eles disseram que apenas diplomatas resolvem de formas pacíficas os problemas entre as nações, mas que o órgão supremo era a ONU, e sabem de uma coisa, eu só vou desistir quando eu chegar lá, quando eu conseguir fazer minhas utopias se concretizarem, pois este é meu sonho. Um paradoxo? Não me importa... 
                                                                             (para: Adailton)
    As aulas mais esperadas desde o meu segundo ano no máster era as do professor Agenor, quando eu o via entrar na sala do pré se passava em minha cabeça quais coisas incríveis ele dizia para todas aquelas pessoas, quais pensamentos ele tinha sobre a sociedade, qual era o ponto de vista de alguém tão incomum sobre os problemas mundiais.
    Comento que me surpreendi com suas aulas, eu achava que ele era bem louco, mas na verdade ele é um profissional excelente que leva a sério o seu papel de educador, e foi que ele fez... Educou-nos, mostrou que as corporações são em certa forma ruins para a sociedade, mostrou que o capitalismo, é um CAPETALISMO... Como ele diz nas suas aulas.
    Júnior Jácome e suas marcantes frases...
    “Gente se você quer que essa bolinha se mova você faz o que? Você a empurra, ou diz: - Bolinha, por favor, se mecha, eu estou lhe pedindo bolinha, se mecha, por favor... ’’
    “Tchau turma, tenham um bom dia, muita paz, amor e FELICIDADES! ’’ Sua frase ao término de cada aula.
    Júnior Jácome tem o dom de transmitir conhecimento, aprendemos não somente porque ele pedagogicamente nos transpassa o assunto muito bem, mas por sua vontade que aprendamos.
    Sua paciência e sua educação sem limites fora o seu jeito amável de ser, cativou-me muito. Um excelente professor.
    “Seja você, mesmo que seja estranho, seja você, mesmo que seja bizarro.”                                                     
                                                                                         (Pitty)
    O ano para mim começou como uma promessa de aprovação, não posso dizer que me esforcei o suficiente, nem que me esforcei...
    Meus problemas psicológicos me atormentam até agora enquanto faço esse TCC. Afinal pra que um TCC? Porque fazemos as coisas do jeito que fazemos, com qual finalidade? A vida vai acabar um dia, pode acabar agora ou amanhã, e só valeria o que eu fiz dela, mas afinal o que eu fiz?
    Será meu erro não ter batalhado por sonhos antigos, mas meu acerto será ter aproveitado os momentos de minha vida.
    Arrependimentos? Tenho muitos no peito. Vontade de mudar é só o que não me falta... Sinto que já é muito tarde para esse vestibular, mas não para a minha vida. Esse ano serviu-me para reavaliar a minha percepção sobre a vida. Mostrou-me que amigos vão e vem, mas que o que fica, é as lembranças que passamos com eles. E pra que ter uma vida inteira correta, certinha, sem aproveito, sem loucuras, sem vontades realizadas?
    Lembro-me que veio uma terrível vontade de ir á praia depois de um dia inteiro de stress na sala de aula, que por mais que as pessoas que já passaram por isso neguem, é sim uma vida irritante. Cobrança dos pais, provas, estudos, e ainda temos que manter uma vida social. Mas não fui á praia porque eu sabia que se eu chegasse mais tarde em casa, minha mãe não me entenderia e muito menos o tio Edson, e me senti uma pessoa terrivelmente infeliz por não poder curtir uma praia, uma beleza natural da cidade, porque o mundo ao meu redor não deixava.
    Conheci um garoto, o nome dele era Max, ele dizia que me amava. Ele tinha uma banda, e era o vocalista. Eu batizei a banda dele de Azura. O nome de um caçador de demônios, porque na minha fase religiosa eu queria que todos os demônios fossem pegos e torturados. Hoje eu estou em uma fase atéia e vegetariana convicta.
    Max, sempre pediu que eu fosse á um show dele, e eu nunca ia, porque eu sabia que se eu pedisse a meus pais eles não deixariam ir. Estranho que hoje eu vejo todos aqueles meus amigos que os pais os deixavam viver, e está dando tudo certo na vida deles, e enquanto eu tive uma vida presa... Parece que nada vai ter uma solução. Eu tentava ir mesmo que fosse escondida e não conseguia não me vinha coragem. Max pediu pra namorar comigo, mas eu não aceitei. Eu gostava dele e muito, e foi por isso que eu não aceitei. Porque eu tinha medo de estragar a felicidade que eu via que tinha nele. Porque eu não poderia assistir a seus shows, nem acompanhá-lo em um passeio de namorados. Foi então, que eu resolvi dar um basta... E acabamos tudo... Nosso enrolo, nossa amizade, tudo começava do zero. Ele foi ao colégio me ver. Eu falei com ele. Ele me chamou pra ir a um de seus shows. Eu tive coragem e pedi a minha mãe. Ela nem respondeu só disse, ‘legal’. E ele me amava, eu sentia e podia ver quando ele olhava pra mim isso, e eu ficava constrangida. Mas quatro dias depois, ele faleceu.
    Eu nunca pensei na minha vida que eu fosse passar por uma coisa dessas... Eu podia pelo menos ter o namorado, talvez fosse um último pedido dele. Talvez ele tivesse sido mais feliz se eu tivesse ido vê-lo cantar em seu último show.
    Talvez, se tudo fosse diferente, ele nem estaria naquele lugar quando tiraram a sua vida. Mas não adianta eu me torturar com esses pensamentos.
    De repente me veio uma sensação de não querer mais viver sem curtir a vida. Sem deixar de ir, para o lugar que me chamam. Minha mãe disse que eu só podia agora lembrar os momentos felizes que eu tive com ele. E eu me lembro de quando ele me perturbava todas as aulas mandando de meia em meia hora uma mensagem pro meu celular dizendo o quanto me amava. E de quando ele ligava e passava horas conversando comigo no celular... Pelo menos uma pessoa nesse mundo inteiro me amou, e eu simplesmente a neguei, e joguei fora... Eu realmente estou num processo muito difícil em minha vida.
    Pena que ninguém me compreende que apenas olham para mim e me vê sorrindo, mas não imaginam quantos pensamentos se passam em minha cabeça. Quanta dor, quanto arrependimento. E quando me vêem fazendo coisas infantis, ou bestas, não percebem que é o meu jeito de pedir desculpa pra vida, de pedir desculpa a Max, de ser feliz, de tentar não abandonar as minhas vontades sem fazê-las porque hoje eu prefiro mil vezes, ser uma assalariada FELIZ, do que uma pessoa que perdeu momentos perdeu amores, perdeu lembranças, porque estava ‘perdendo tempo’ em sua batalha de um futuro melhor.
    “Arrependimento não, não trago no peito, não guardo mágoas nem mesmo ressentimentos. Fazer o que, né? Nem tudo é como a gente quer, ficar se lamentando não, eu sigo na fé. Espero que consiga o que sempre quis principalmente que consiga ser feliz. Enquanto isso por aqui eu vou vivendo, coração de pedra sofrendo por dentro.” 
                                                                                                                                    (Góry)
    ( Em memória de Max )


    Sempre tive um bom rendimento escolar, meu medo este ano é de ficar pela primeira vez em minha vida de recuperação. Será um desgosto muito grande para mim...
    Meus pais irão reclamar, por um investimento jogado fora... Eu irei me sentir pior, por ter sido abalada por problemas que não deveriam me abalar. Pelo menos fica de experiência, para minha vida, que devemos controlar melhor as coisas e não se deixar mover apenas pelo impulso.

    Foi um maravilhoso ano, apesar dos apesares. Amigos e professores aos quais tentarei nunca retirar de minhas lembranças. Momentos únicos e inesquecíveis, “o meu último ano escolar incrível”...